terça-feira, 27 de setembro de 2011

Para Luana

Ela teve um sonho, me descreveu muito bem. Fui sacudida pela simples associação entre o devaneio e a realidade. Pois bem, entre conversas e constatações, por ser doce e meiga demais, eis que numa manhã semanal aparece uma abelha e se instala bem em seu ouvido. O zumbido é assustador, mas o medo que causa seu ferrão é ainda maior. O que fazer quando se sabe do perigo da dor, mas também se sabe que determinado barulho e incômodo pode causar loucura irremediável? O sonho termina, o despertador faz seu trabalho alienado, mas um novo dia é sempre um novo dia... A decisão não precisa ser tomada agora, mas um dia o sonho irá realizar...
Nem a transcendência nos trará solução.

domingo, 18 de setembro de 2011

Canção de Berço

O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.

Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.

Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?

Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Palavras e Silêncios (Zeca Baleiro e Fagner)

Hoje não quero choro, não quero previsões, nem quero saber da desgraça mundana. O dia é meu, assim como a imagem refletida no espelho, que retrata tudo aquilo que em tempos fui. As cicatrizes tem aumentado com a idade (talvez significativa...), e não reclamo de minha sorte. Sou, em devir, com essência, com paixão. O maior medo que um dia tive foi de me perder, e agora sinto que nunca estive presa a nada. Sempre à deriva, sem receio pelo que pode acontecer, vou deixar tudo como está. Futuro é o sagrado, o divino, o mistério. Sou pequena demais pra domar minhas próprias rédeas.